19 de outubro de 2009

Também eu gostava de ser "maluco"!


Quando falamos em "malucos", lembramo-nos daqueles que não estão bem da cabeça, como dizemos frequentemente. Na realidade são pessoas com problema mentais graves mas que vivem no meio de nós, são pessoas iguais a nós e que devemos respeitar e que por vezes, como hoje, nos dá grandes lições!

Sempre ouvi dizer que cada terra tem o seu "maluco"... Eu hoje encontrei o da minha!
O cenário parece ser sempre o mesmo: o carro e o retrovisor!
Percorria uma das estradas do Porto, procurando um lugar de estacionamento que é uma missão titânica pois encontrar lugares vazios é quase como encontrar bruxas: não as vemos mas existir existem...

Avistei esta pessoa que percorria a forte passada, olhando para o chão e baixando-se, apanhava sempre qualquer coisa. Tinha perturbações evidentes quer pela forma como procurava qualquer coisa no chão, quer pela velocidade com que o fazia.
Qual foi o pensamento imediato? É um drogadito que procura pontas de cigarro... Pelo aspecto, pela face carregada, pelas roupas...

Continuei a aproximar-me e afinal o cenário já era diferente: parecia que estava a apanhar maços de cigarros vazios pois tinha um monte de papelada nas mãos entre a qual estavam vários maços.
Qual foi o pensamento imediato? Afinal é um pobre desgraçado que está a recolher a prata dos maços de tabaco para ir vender e assim fazer algum dinheiro...

Passei por ele e vi que se agarrava a um monte de lixo, agarrava-se de tal forma que parecia que agarrava a vida... Ele parecia passar despercebido por todos aqueles que cruzavam com ele no passeio. Uma pessoa normal a fazer algo normal...

Percorri o olhar no retrovisor para ver se continuaria a baixar-se e a apanhar lixo. Baixou-se uma vez mais, sempre de passo acelerado. Vi-o a colocar tudo o que abraçava num caixote do lixo...
Sorri...

Qual foi o meu pensamento imediato?

Também eu gostava de ser "maluco"!

28 de julho de 2009

Pensei e fiquei triste...

Mais um dia de trabalho que passou, mais um dia que se avizinha do seu final. Um dia igual a tantos outros, apenas diferente pois a lei do calendário assim o determina. Sair do trabalho com a sensação do dever cumprido é já por si relaxante mas sabermos que nos espera um duche fresquinho dá ainda mais para relaxar, quase que parecemos esparguete após começarmos a cozer, ou seja, moles!
Quem passa todos os dias pelas mesmas ruas, vai aos mesmos sítios, cruza com as mesmas caras, é natural que se vá conhecendo as pessoas, não por dentro mas por fora! Ficamos tentados á avaliação por aquilo que as pessoas demonstram mas nunca ficamos a saber quais os tesouros ou venenos que escondem. É no fundo um jogo do quem é quem.
A rua perpendicular á rua da minha empresa é a minha única escapatória para onde quer que seja e aqui pratico tudo o que referi atrás, não com orgulho é claro!
Olho sempre para as mesmas caras e quase todos parecem que ganharam raizes nessas esquinas, á porta daqueles cafés, e qualquer movimento que não seja o estar parado, é realmente muito estranho, acreditem, e desperta-nos logo a atenção.
Nesse dia, nessa tarde, descia a rua e de repente ao fundo, um rápido movimento saiu da esquina. Parecia uma criança pois pelo tamanho era fácil de perceber. A minha dificuldade de visão não me deixou concluir se era rapaz ou rapariga mas como eu ia ao seu encontro, rapidamente identificaria.
Era um rapaz! Ele vinha a correr, a correr muito rápido! As crianças, de vez em quando, lembram-se em correr, portanto na anormalidade do normal da rua, não achei nada de especial. Quando consegui finalmente ver com nitidez o seu rosto, aí sim, passou a ser especial pois o que vi foi uma face aterrorizada!
Está a fugir de um cão, pensei.
Corria com um dos braços por dentro da camisola, talvez estivesse magoado, corria a chorar de desespero, e a minha conclusão de que estava realmente assustado foi quando ele olhou para trás para ver se o algo ou o alguém ainda o perseguia. Só olhou uma vez!
Parei nos semáforos no final da rua enquanto olhava pelo canto do olho o rapaz que quase voava pela a rua acima numa passada de corrida impressionante.
Coitado, deve-se ter mesmo assustado com um cão, lembrei-me então das vezes em que eu próprio tive aquele comportamento... Sempre tive medo de cães e ás vezes eu corria mesmo á frente deles, ou então dava voltas enormes só para não me cruzar com cães...
Sorri ao lembrar-me...
Contudo pelos ouvidos entrou o som que deitou abaixo todas as minhas conclusões!
P'ra casa já! Gritava a voz de um homem! P'ra casa já sua... dispenso reproduzir as palavras que saiam da voz forte daquele homem. O semáforo virou para verde e arranquei devagar para conseguir identificar e visualizar de onde vinha a voz.
A cena que se desenrolava em plena rua era no minímo desprezível! Um homem agarrava a mulher pelos braços, empurrando-a e sempre a gritar as mesmas palavras. Ela chorava, tentava proteger o rosto para não receber uma violência na sua face e não sei se já não tinha recebido. Não falava, apenas chorava e ele insistia com dureza. O puzzle formou-se então quando reconheci o casal, um casal desses da rotina do meu dia, pois costumava vê-los no café, a eles e ao filho... Aquele que corria aterrorizado.
Imaginei a dor da criança, o medo de um homem que é o seu pai, imaginei o trauma pela situação e imaginei que se era assim na rua como seria em casa, imaginei o que é ver um pai a bater na mãe, imaginei...
Pobre mulher, pobre criança, pobre homem...

Esta humilhação pública, levou-me a comparar a humilhação pública que Jesus teve, aquando da sua paixão. Ali, sozinho no meio de uma multidão, que o insultava, que o escarnecia física e moralmente. A multidão para ela era o seu marido...
Pilatos julgou Jesus por aquilo que os outros lhe disseram dele, a ela e ao marido, julgaram todos aqueles que por ali passavam...inclusivé eu!
Após a morte de Jesus, ele ressuscitou ao 3º dia, ela, no dia seguinte, já sorria como se nada se tivesse passado...
Será que ressuscitou? Infelizmente não creio...

Pensei em intervir, tive medo...
Quis ser cristão, não fui...
Senti-me como Pedro que quando Jesus precisava dele, fugiu e negou!
Pensei na minha vida...
Pensei e fiquei triste...

19 de junho de 2009

Encontro com Jesus


Era um de tantos dias normais, daqueles dias que saimos do trabalho, arregaçamos as mangas para enfrentarmos o duro trânsito da cidade, com um brilhozinho especial nos olhos de quem vê o dia de trabalho finalmente terminado.
Esta normalidade inquietante, porém, deixou de o ser.
Quando estamos parados no semáforo, temos tendência a vaguear um pouco com o olhar, procurando não sabemos quem, qualquer coisa para nos afastar da realidade do pára-arranca... Nesta busca, dei por mim a observar um senhor de nome incerto, que estava a atravessar na passadeira. Aparentava ter uns 50 anos, cara dura, gasta pelos anos, roupas simples e pesadas que contrastavam com um céu limpo e quente. O seu caminhar não era ligeiro, era lento e curvado, parecia procurar algo no chão pois a sua cabeça estava virada para o piso negro da estrada. Debaixo do braço levava um pedaço de cartão e na mão um copo de plástico branco.

O tempo parou!

Quando chegou junto á parede, trocamos o primeiro olhar... Ele não viu os meus olhos, escondidos pelos óculos de sol, mas eu vi os dele, fitando-me. Talvez fosse o meu ar descontraido com o braço apoiado sobre a porta, talvez porque sentiu que eu o observava, talvez porque estava á procura de alguém e sentiu que no fundo eu próprio também o procurava... Olhando-me, encolheu os ombros... O que significa este gesto feito para mim?- pensei.
Perante tal gesto, levantou-se uma grande tempestade na minha cabeça, as questões saltavam-me do pensamento como a espuma que o mar faz quando beija as rochas. Quem seria aquele homem? Qual o seu nome? Porque não tinha casa? Porque pedia esmola? Porque encolheu os ombros? Seria resignação? Seria um mea culpa? Seria o quê? Eu não lhe perguntei, não fui capaz de esboçar qualquer gesto de conforto. Nada, eu não fiz nada!...Respondi-lhe com um imperceptivel franzir de olhos. Tão pouco para tão grande gesto, aquele gesto que parecia contar a sua vida, um gesto que procurava exprimir um estado de alma, uma angústia, uma esperança... O que seria?
Sentou-se com alguma dificuldade e finalmente denunciou aquilo que o trazia ali: Sou sem abrigo! Esmola para comer. Era o que dizia o cartão...
Então, os meus olhos comunicaram ao cérebro o que tinha acabado de ler, o meu cérebro estimulou todo o corpo que se arrepiou, contraindo todos os músculos no sentido do coração. O coração apertou... A onda de compaixão chegou rapidamente ao cérebro. Os membros superiores e inferiores, articulados com uma coluna flexivel, levaram as minhas mãos a procurar alguma moeda no meu bolso... Encontrei duas!

Perdi-o de vista... Um carro parou do meu lado esquerdo, tapando-me o contacto visual e eu ali com o braço de fora com as duas moedas na mão. Para que será a esmola? Será mesmo para comer ou será para beber? Percorri na mente a sua figura, a sua silhueta, os traços do rosto para me facilitar a avaliação.
O egoísmo falou mais alto e decidi dar-lhe somente uma moeda.

Voltei a estabelecer contacto visual, fiz-lhe um gesto com a mão demonstrando que queria lhe dar uma moeda... Já sentado, não fez qualquer esforço para se levantar, apenas deu-me indicações para lhe atirar o que quer que fosse sair da minha mão...
Um outro carro impaciente, tocou a buzina!Arranquei e atirei a moeda. Seguiu com o olhar o percurso da moeda, a curiosidade de saber o seu valor assim o obrigou, e já em andamento, olhei pelo espelho retrovisor a observá-lo. Ainda demorou um pouco de tempo a levantar-se, quase semelhante ao tempo que demorou a sentar-se. Perdi-o de vista...

O tempo começou novamente a contar e tinham passado apenas 30 segundos!

No trajecto, até casa, não consegui esquecer todos estes momentos, estes segundos em que senti que aquele encontro tinha sido especial, único. Certamente, nunca mais irei encontrar esta personagem, mas queria. Queria porque não lhe falei, porque não fiz tudo o que estava ao meu alcance para lhe dar mais de mim do que somente uma moeda. Será que eu fiquei no seu pensamento? Não sei mas também não importa pois para ele eu fui mais um caridoso a dar-lhe qualquer coisa para o fim que ele desejar.

Decidi dar-lhe um nome: Jesus!

O encontro com Jesus, fez com que o amasse, que o desejasse a voltar a encontrar, que ainda o tenha no pensamento imaginando quando ele poderá voltar a ter casa, quando lhe aparecerá novamente outro igual a mim, que lhe dê alguma atenção, que lhe dê aquilo que ele mais precise mas que lhe dê sobretudo palavras de conforto!

Quando encontramos pessoas como Jesus, a nossa vida, realmente, fica diferente!

18 de junho de 2009

Amor é amor???


Quando pensamos na palavra amor, logo nos vem à mente que é o maior dos sentimentos, que sem ele não conseguimos viver, que é a expressão máxima do relacionamento entre duas pessoas. Bem, nem tudo o que nos vem à cabeça, se traduz naquilo que realmente achamos, agimos ou vivemos e o amor encaixa perfeitamente nesta premissa. Amar é muito mais do que pensamos, é muito mais do que sentimos, é muito mais do que só amor.

Para se perceber a complexidade do amor, o povo grego deu ao sentimento três definições: Eros (sentimento de atracção entre duas pessoas), Philos ( o amor que se traduz na amizade entre as pessoas), Agape ( a afeição entre duas pessoas), sendo que cada uma delas define o amor em diferentes dimensões como podemos perceber. Nós incluimos no amor todas as dimensões e ainda mais. Mas será que existem vários tipos de amor? Eu penso que não!

Na palavra amor, uma outra deveria estar sempre associada, intimamente unida, pois assim confere-lhe a veracidade de significados: Incondicional! Amar não pode ser nada mais nada menos do que um sentimento incondicional, sem limites, infinito, sincero, que sai da alma. Quem coloca o amor como um sentimento passageiro, dependente dos outros sentimentos, com certeza que não ama nem nunca amará! Talvez a resistência que se coloca a amar, esteja associada ao medo de descobrir a veracidade do amor, a entrega absoluta ao outro, mas este medo não é consciente, é ignorante!

Hoje amar é banal, é mais palavra do que sentimento, é mais desumanizado, é mais de tudo e menos de amor, é amo-te hoje mas amanhã não sei, é apenas e infelizmente mais uma palavra do dicionário corrompida pala mente humana.

Basta!!!

Serão precisas mais explicações sobre a forma que amamos? Não me parece... Não me parece sequer, que num mundo perdido no egoísmo, a palavra amor sobreviva aos sinais do tempo.
Cada um tem a sua responsabilidade de revitalizar o amor, de amar o outro na plenitude máxima do sentimento, de se amar para amar os outros.Não é dificil, mas se não se tentar, se não se acreditar, nunca sairemos deste turbilhão de sentimentos nos quais colocamos a capa de amor.

Soluções para como se deve amar? Não tenho...

Mas conheço um Galileu que te poderá ensinar, mostrar, desafiar a viver no amor...
Nome? Jesus...
Profissão? Amar!!

Pedi e dar-se-vos-à, procurai e encontrareis... o amor!!!!

19 de fevereiro de 2009

E se um dia toda a gente...

E se um dia toda a gente acordasse sempre no mesmo dia?
E se um dia toda a gente não se conseguisse mexer?
E se um dia toda a gente falasse a mesma língua?
E se um dia toda a gente morresse a rir?
E se um dia toda a gente se despedisse do seu local de trabalho?
E se um dia toda a gente queimasse todo o dinheiro do mundo?
E se um dia toda a gente começasse a voar?
E se um dia toda a gente se tentasse esconder-se uns dos outros?
E se um dia toda a gente conseguisse tocar o céu?
E se um dia toda a gente visitasse o centro da terra?
E se um dia toda a gente voltasse a ser criança?
E se um dia toda a gente desse as mãos?
E se um dia toda a gente dormisse na lua?
E se um dia toda a gente amasse o seu irmão?
E se um dia toda a gente ficasse cega?

Dos milhões de "ses" na nossa vida, estes são apenas uma pequena amostra das mais variadas situações que a nossa mente consegue imaginar. Conseguimos produzir fielmente no pensamento cada pormenor, em alguns ses, parece até que conseguimos tocar... A nossa mente está "programada" para reproduzir todos os ses e para nós todos os ses são possíveis!

E se um dia Deus deixasse de nos amar???

Então, não haveria mais ses...
Então, não valia a pena existir neste mundo...
Então, a nossa vida não existia...
Então, o existir não existia...
Então, somente o vazio prenchia o nada....

E se tu amasses Deus?!