19 de junho de 2009

Encontro com Jesus


Era um de tantos dias normais, daqueles dias que saimos do trabalho, arregaçamos as mangas para enfrentarmos o duro trânsito da cidade, com um brilhozinho especial nos olhos de quem vê o dia de trabalho finalmente terminado.
Esta normalidade inquietante, porém, deixou de o ser.
Quando estamos parados no semáforo, temos tendência a vaguear um pouco com o olhar, procurando não sabemos quem, qualquer coisa para nos afastar da realidade do pára-arranca... Nesta busca, dei por mim a observar um senhor de nome incerto, que estava a atravessar na passadeira. Aparentava ter uns 50 anos, cara dura, gasta pelos anos, roupas simples e pesadas que contrastavam com um céu limpo e quente. O seu caminhar não era ligeiro, era lento e curvado, parecia procurar algo no chão pois a sua cabeça estava virada para o piso negro da estrada. Debaixo do braço levava um pedaço de cartão e na mão um copo de plástico branco.

O tempo parou!

Quando chegou junto á parede, trocamos o primeiro olhar... Ele não viu os meus olhos, escondidos pelos óculos de sol, mas eu vi os dele, fitando-me. Talvez fosse o meu ar descontraido com o braço apoiado sobre a porta, talvez porque sentiu que eu o observava, talvez porque estava á procura de alguém e sentiu que no fundo eu próprio também o procurava... Olhando-me, encolheu os ombros... O que significa este gesto feito para mim?- pensei.
Perante tal gesto, levantou-se uma grande tempestade na minha cabeça, as questões saltavam-me do pensamento como a espuma que o mar faz quando beija as rochas. Quem seria aquele homem? Qual o seu nome? Porque não tinha casa? Porque pedia esmola? Porque encolheu os ombros? Seria resignação? Seria um mea culpa? Seria o quê? Eu não lhe perguntei, não fui capaz de esboçar qualquer gesto de conforto. Nada, eu não fiz nada!...Respondi-lhe com um imperceptivel franzir de olhos. Tão pouco para tão grande gesto, aquele gesto que parecia contar a sua vida, um gesto que procurava exprimir um estado de alma, uma angústia, uma esperança... O que seria?
Sentou-se com alguma dificuldade e finalmente denunciou aquilo que o trazia ali: Sou sem abrigo! Esmola para comer. Era o que dizia o cartão...
Então, os meus olhos comunicaram ao cérebro o que tinha acabado de ler, o meu cérebro estimulou todo o corpo que se arrepiou, contraindo todos os músculos no sentido do coração. O coração apertou... A onda de compaixão chegou rapidamente ao cérebro. Os membros superiores e inferiores, articulados com uma coluna flexivel, levaram as minhas mãos a procurar alguma moeda no meu bolso... Encontrei duas!

Perdi-o de vista... Um carro parou do meu lado esquerdo, tapando-me o contacto visual e eu ali com o braço de fora com as duas moedas na mão. Para que será a esmola? Será mesmo para comer ou será para beber? Percorri na mente a sua figura, a sua silhueta, os traços do rosto para me facilitar a avaliação.
O egoísmo falou mais alto e decidi dar-lhe somente uma moeda.

Voltei a estabelecer contacto visual, fiz-lhe um gesto com a mão demonstrando que queria lhe dar uma moeda... Já sentado, não fez qualquer esforço para se levantar, apenas deu-me indicações para lhe atirar o que quer que fosse sair da minha mão...
Um outro carro impaciente, tocou a buzina!Arranquei e atirei a moeda. Seguiu com o olhar o percurso da moeda, a curiosidade de saber o seu valor assim o obrigou, e já em andamento, olhei pelo espelho retrovisor a observá-lo. Ainda demorou um pouco de tempo a levantar-se, quase semelhante ao tempo que demorou a sentar-se. Perdi-o de vista...

O tempo começou novamente a contar e tinham passado apenas 30 segundos!

No trajecto, até casa, não consegui esquecer todos estes momentos, estes segundos em que senti que aquele encontro tinha sido especial, único. Certamente, nunca mais irei encontrar esta personagem, mas queria. Queria porque não lhe falei, porque não fiz tudo o que estava ao meu alcance para lhe dar mais de mim do que somente uma moeda. Será que eu fiquei no seu pensamento? Não sei mas também não importa pois para ele eu fui mais um caridoso a dar-lhe qualquer coisa para o fim que ele desejar.

Decidi dar-lhe um nome: Jesus!

O encontro com Jesus, fez com que o amasse, que o desejasse a voltar a encontrar, que ainda o tenha no pensamento imaginando quando ele poderá voltar a ter casa, quando lhe aparecerá novamente outro igual a mim, que lhe dê alguma atenção, que lhe dê aquilo que ele mais precise mas que lhe dê sobretudo palavras de conforto!

Quando encontramos pessoas como Jesus, a nossa vida, realmente, fica diferente!

18 de junho de 2009

Amor é amor???


Quando pensamos na palavra amor, logo nos vem à mente que é o maior dos sentimentos, que sem ele não conseguimos viver, que é a expressão máxima do relacionamento entre duas pessoas. Bem, nem tudo o que nos vem à cabeça, se traduz naquilo que realmente achamos, agimos ou vivemos e o amor encaixa perfeitamente nesta premissa. Amar é muito mais do que pensamos, é muito mais do que sentimos, é muito mais do que só amor.

Para se perceber a complexidade do amor, o povo grego deu ao sentimento três definições: Eros (sentimento de atracção entre duas pessoas), Philos ( o amor que se traduz na amizade entre as pessoas), Agape ( a afeição entre duas pessoas), sendo que cada uma delas define o amor em diferentes dimensões como podemos perceber. Nós incluimos no amor todas as dimensões e ainda mais. Mas será que existem vários tipos de amor? Eu penso que não!

Na palavra amor, uma outra deveria estar sempre associada, intimamente unida, pois assim confere-lhe a veracidade de significados: Incondicional! Amar não pode ser nada mais nada menos do que um sentimento incondicional, sem limites, infinito, sincero, que sai da alma. Quem coloca o amor como um sentimento passageiro, dependente dos outros sentimentos, com certeza que não ama nem nunca amará! Talvez a resistência que se coloca a amar, esteja associada ao medo de descobrir a veracidade do amor, a entrega absoluta ao outro, mas este medo não é consciente, é ignorante!

Hoje amar é banal, é mais palavra do que sentimento, é mais desumanizado, é mais de tudo e menos de amor, é amo-te hoje mas amanhã não sei, é apenas e infelizmente mais uma palavra do dicionário corrompida pala mente humana.

Basta!!!

Serão precisas mais explicações sobre a forma que amamos? Não me parece... Não me parece sequer, que num mundo perdido no egoísmo, a palavra amor sobreviva aos sinais do tempo.
Cada um tem a sua responsabilidade de revitalizar o amor, de amar o outro na plenitude máxima do sentimento, de se amar para amar os outros.Não é dificil, mas se não se tentar, se não se acreditar, nunca sairemos deste turbilhão de sentimentos nos quais colocamos a capa de amor.

Soluções para como se deve amar? Não tenho...

Mas conheço um Galileu que te poderá ensinar, mostrar, desafiar a viver no amor...
Nome? Jesus...
Profissão? Amar!!

Pedi e dar-se-vos-à, procurai e encontrareis... o amor!!!!