12 de agosto de 2008

O tempo do grito...


Fazer silêncio... Eis algo que ninguém faz de livre vontade, de livre arbítrio, em liberdade... O silêncio está sempre constrangido, limitado pelo barulho que nos rodeia e não nos faz ouvir o que o próprio silêncio nos diz. O silêncio assusta, faz temer o que está para vir, faz-nos perder os pontos de orientação como se de uma bússula se tratasse, faz-nos esconder para que ninguém nos encontre, faz-nos desesperar e muito mais... O silêncio é hoje o nosso maior inimigo! Porquê?

Segundo algumas correntes filosóficas, para cada coisa, existe o seu oposto. Naturalmente, só sabemos o que é o silêncio porque sabemos o que é o barulho mas o que não sabemos é quando é que o silêncio faz barulho! E não deixa de estar silêncio á nossa volta... Parece impossivel mas não o é.

Quantas vezes estamos calados em silêncio mas dentro da nossa cabeça parece que estamos num parque de diversões onde subimos e descemos vertiginosamente nas sendas do pensamento, nas preocupações latentes, na maior confusão de uma grande cidade... Tudo dentro deste pequeno espaço confinado á nossa cabeça...

Tudo o que se gera, tudo o que se pensa é o que aqui chamamos de barulho...
Mas tudo o que pensamos é barulho????

Claro que não! O barulho existe quando dispomos o nosso corpo exteriormente ao silêncio mas dentro, no nosso pensamento, um barulho insurdecedor que às vezes, abala-nos como se de um terramoto se tratasse...

Este é o silêncio que nós vivemos...

Preocupante não é???

O silêncio apenas contempla a alma, fala com ela, abre-se a ela pois o silêncio é impossivel de ouvir por isso façam o esforço de escutar a voz do silêncio.

Para a ouvir basta calar, e para a comprender basta escutar...

Que silêncio...

E é tão fácil de escutar...

Shiuuuuuuuu...

O silêncio está a falar...
e tu estás a gritar...




1 de abril de 2008

Sentir os pregos nas nossas mãos...


A nossa vida foi-nos generosamente dada por Deus, nosso Pai, que nos criou à sua imagem e semelhança. Tornou-nos assim admnistradores de algo que não nos pertence, algo demasiado precioso para nós nos descurarmos de tratá-la bem.
Com tamanha graça concedida, todo o nosso percurso terreno vem de Deus e para Ele deve convergir. Os dons que recebemos, adquirimos e descobrimos, por vezes leva-nos a ser tudo aquilo que não é suposto sermos, a vivermos numa espécie de ilusão que nos descaracteriza da nossa verdadeira essência de vida. A reflexão a fazer é sobre o propósito da nossa vida, até que ponto estamos preparados para assumir as nossas limitações de sermos homens e mulheres, e assim a razão de termos que dar as nossas mãos para que aceitemos o sacrificio e a dor de não estarmos a cumprir a vontade de Deus.
Todos os dias somos tocados por coisas boas e por coisas más que nos alegram ou nos fazem entristecer! Tudo o que é bom, o pensamento imediato é que nós fizemos por merecer tamanha graça... Contudo, quando algo não nos agrada, a tendência é de colocar as culpas Naquele que tem o poder de impedir que algo de mal nos aconteça: Deus!
Pode um Pai de amor desejar algo de mau para um dos seus filhos? A resposta óbvia é um não redondo. Mas quando se pergunta se quererá Deus que passemos por uma "via sacra" para assim nos podermos libertar de algo mau, que nós não nos apercebemos mas que faz parte de nós, a resposta não será tão óbvia quanto a anterior.
Deus amou de tal modo os Homens que entregou o seu filho unigénito para morrer, fez o Deus tornar-se homem, humilhando assim a sua natureza divina.
Que pai faria uma coisa dessas a um filho? Certamente nenhum pai o faria mas Deus, Pai de todos os pais fê-lo! Ele que nos ama mais do que possamos imaginar. Os designios de Deus são misteriosos para nós mas nós tentamos sempre desvenda-los numa tentativa de compreendermos o que não está ao alcance da nossa compreenção.
Deus, desde que fomos pensados, está connosco, no silêncio, observando, mostrando-nos o caminho e nós continuamos cegos.
O que para nós é mal, para Deus é amor! Se morrem crianças inocentes, a culpa é de Deus ou é da estupidez do Homem? Se Deus corrigisse todo o mal com uma série de intervenções divinas será que haveria conversão de todos os Homens? Ou toda a gente agiria tranquilamente pensando que se fizesse algo de mal, Deus apareceria e corrigiria? Será que se todo o Homem tomasse consciência de que é pecador deixava de haver pecado?
É preciso mudar, é preciso sermos Homens de Deus, é preciso deixar de sermos deuses das nossas vidas pois a vida não nos pertence a nós.
Se Deus nos pede para sofremos então aceitemos o sofrimento e soframos por amor. Se Deus nos pede sacrificios então digamos: eis o teu servo! Se Deus nos pede para amar então amemos sem medida. Se Deus nos pede para dar-mos as nossas mãos para sermos nós a receber os pregos que cravaram Cristo na cruz então digamos: faça-se a Tua vontade!
O desafio de vivermos na certeza do amor que Deus tem por nós é grande mas se não o fizermos, continuaremos a ser apenas sombras de homens e mulheres que foram criados para viverem em abundância e felicidade.
Cabe a cada um de nós olhar para dentro e até que ponto continuamos a acreditar que Deus não está connosco quando na realidade nós somos a sua casa...

17 de janeiro de 2008

A estação - Capítulo 1


Sentado na sua cama, Rodrigo não sabia o que escrever. Durante dias esteve a vaguear pelos prados do pensamento, procurando a inspiração que o levasse a ter uma ideia luminosa, procurando somente escrever… Não que fosse já escritor, mas o desejo de criar algo, invadia-lhe o coração de tal forma que, quase se obrigava a ele próprio a imaginar uma história, um conto, um romance, quaisquer linhas que levassem outras pessoas numa viagem alucinante por um mundo irreal. Observava tudo ao seu redor, todos os movimentos, sons que lhe invadiam os ouvidos, os pássaros que passavam defronte à sua janela e nada… Nem uma linha saía da sua mão, que segurava a caneta, na expectativa de mover-se articuladamente para compor aquilo que nós chamamos palavras… Desiludido e rendido, pelo facto de que não tinha capacidade para conseguir escrever uma história, decidiu sair de casa, fugir daquela monotonia da caneta e do papel, e assim aproveitar o belo dia de primavera para levantar o ânimo.

Rodrigo tinha vinte e quatro anos, e vivia há um ano na aldeia da Fraternidade. Aldeia perdida na Serra dos Moleiros onde se contavam 58 habitantes sendo Rodrigo o mais jovem de todos. A sua chegada à aldeia, foi envolta de muito mistério e admiração por parte da população, pois não era normal que um jovem procurasse um local para viver longe de tudo, onde a maioria das pessoas são já idosas, vivem do trabalho agrícola, em soma, vivem distantes da realidade do mundo que os rodeia... Todos o acolheram carinhosamente, mas de uma forma especial a D. Amélia, que é a campeã da aldeia na corrida da vida, onde já leva 95 anos apenas demonstrados na face enrugada e envelhecida, pois no que diz respeito às palavras, ninguém pensaria que tivesse aquela idade: «Ai se eu tivesse menos 70 anos tu não me escapavas!»
A casa que tinha comprado era discreta. Uma de tantas iguais na aldeia, era de pedra antiga com telhado de argila, tinha uma cozinha, uma sala, um quarto e uma casa de banho. À volta, um muro gasto pelo tempo delimitava a propriedade, e nas traseiras, um pequeno quintal onde cultivava alguns legumes sobre a orientação do Sr. José, que era seu vizinho e mentor na arte de aprender a cultivar.
A presença de Rodrigo na aldeia tinha um objectivo: viver. Apenas isso.
Em nenhum dia se arrependia da escolha que fez, nem mesmo o facto de lhe estar bem marcada a tristeza que um jovem carrega após a vivência terrível que é ver morrer os pais…
A Fraternidade era o seu refugio, o seu paraíso, a sua vida.

Sempre que saia de casa multiplicavam-se as saudações a toda uma gente que se agrupava à porta uns dos outros em intermináveis conversas que se desenvolviam numa harmonia jovial.
«Bom dia D. Jacinta! Como está o marido?»
«Sempre na mesma, velho, rabugento, a trabalhar no campo.»
«Então essa saúde Sr. Lobo?»
«É sempre a mesma coisa menino Rodrigo… Os médicos não nos fazem nada! A gente bem se queixa mas no fim, vem sempre igual…»
«Bom dia Sr.Abade!»
«Não te vi na missa hoje! Espero que te venhas confessar!!!»
Rodrigo corou: « Com certeza Sr. Abade. O Senhor sabe que esta juventude não tem emenda.»

Rodrigo ria sempre com todas estas saudações, mesmo que a resposta não variasse tanto, pois a vida era sempre a mesma, apenas mudava o calendário… Depois de quase uma hora para percorrer a aldeia, aventurou-se no trilho rumo à “ estação do pensamento”.

Tinha descoberto aquele lugar quase por acaso. Um dia saiu a correr à procura do Sr. José pois a sua mulher, a D. Josefina, acordou-o ainda o sol não se tinha levantado, aflita por o seu marido não ter regressado a casa, pois nessa noite tinha saido para levar o seu gado a pastar e parecia que se tinha perdido devido ao nevoeiro cerrado.
Aflito, também ele invadiu as matas gritando pelo nome do Sr. José, e foi então, que encontrou este lugar, um pouco acima da aldeia, ainda sem nenhum caminho aberto, como se ninguém o tivesse descoberto. O lugar era como que uma janela na mata verde, onde uma árvore parecia ter sido plantada no sítio exacto, para proporcionar um trono digno de um rei. O sol nascia e por momentos esqueceu o Sr. José, esqueceu o mundo, e sentado contemplou este acontecimento mágico.


A vista era espectacular. Tinha a aldeia aos seus pés, onde só se viam os telhados velhos e cheios de musgo. Os seus olhos percorriam uma imensidão de planícies verdes, acompanhado por uma música de fundo, onde o vento parecia assobiar em sintonia com o cantar de alguns pássaros. Ali era o ponto de partida para as suas “viagens”, por um mundo que não lhe pertencia, um mundo de ideias que ele queria conseguir escrever num papel, mas sempre que lá permanecia, tudo o resto deixava de fazer sentido. Ele esperava o comboio que o levaria a um lugar incerto, a um lugar onde nada importa, a um lugar imaginado por ele e onde ele é o personagem principal.

O que ele queria era deixar-se “viajar”.

16 de janeiro de 2008

Os nossos olhos


A vida é um dom de Deus, um dom tão grande que ainda hoje não possuimos as respostas para todas as perguntas que ela mesma nos coloca. Aceitar o porquê de sermos assim é um enigma que tem
fascinado o Homem nos séculos da sua existência.
A natureza humana, o pensamento humano, a essência da alma são alguns destes enigmas que têm todos o mesmo denominador comum: Deus!! Desde o princípio dos tempos, todos nós fomos pensados e a cada um de nós, Deus deu um propósito, um caminho, uma esperança que nos é apresentada todos os dias ainda que às vezes, de forma quase imperceptivel a estes nossos olhos corrompidos pelo pecado; olhos que olham mas não vêem...

Não se trata porém de um problema ocular, trata-se da natureza do próprio Homem cuja liberdade lhe foi oferecida para o seu bem e não para o seu mal! A forma como nós captamos a realidade de Deus nas nossas vidas é bloqueada pelos nossos olhos perdidos num mundo de sombras que têm medo de olhar o sol que nos faz viver e ver! O sol da nossa vida é Deus e garanto-vos que a sua luz não nos cegará mas nos fará olhar com mais nitidez para o mundo, para as pessoas que cruzam os nossos caminhos e descobrir que nelas está o próprio Jesus...

Não feches os teus olhos... e verás a luz!!!