18 de janeiro de 2010

Merci Jesu


Eu sou alguém de nome incerto... A minha idade não se sabe, quem é e onde está a minha família parece não importar! Eu fui cabeça de cartaz de um grande número de noticiários por todo o mundo, privilégio sublime para alguém que não deseja a fama, para quem aparece pela pior das razões...
O som deve ter sido horrível, tudo a desabar, gritos de pessoas que lutavam pela vida, gemidos de dor e o silêncio daqueles que nem tiveram oportunidade de gritar... Não me lembro bem...
O local onde estava desabou, apagaram-se as luzes... Não sei se tive tempo para me proteger melhor! Fiquei em estado de choque... Quanto tempo ficarei aqui? Que será que aconteceu aos que estavam comigo, aos que estavam perto de mim e aos restantes por toda a cidade? Não sei... juro que não sei...! Com certeza passaram pela minha cabeça todas as cenas da minha vida, todas as pessoas que faziam parte dela, e com isto, a angústia tomou conta de mim...
Não sei quanto tempo estive debaixo de tudo, quanto tempo estaria em cima do que quer que fosse... Comecei a ouvir barulho, barulho de gente que me procurava, que nos procurava... Gritei para que me ouvissem... Eu ainda estou viva!
Não tive sempre forças para gritar, mas tinha a força da vida comigo. Cada segundo que passava, pareciam horas, uma eternidade. Estou sozinha??? Vou morrer??? Não sabia...
Quando começamos a perder a esperança nos homens, emerge uma outra esperança que nos acalma a alma, que nos consola, que nos acompanha... Sim, afinal não estava sozinha! Ele estava ali comigo, a dar-me a mão, a dizer-me: luta! Nunca O tinha sentido tão perto, talvez por estar tão perto a hora de o poder ver, de me juntar a Ele na glória dos céus mas ainda não era a minha hora, parecia dizer-me. Não sei quantas vezes lhe rezei, não sei quantas vezes repeti o seu nome, mas sabia que Ele estava ali! Eu sentia...
O silêncio cada vez se tornava em mais barulho... Estou aqui!!! Gritei...
Alguém me questionava não sei o quê, não interessa, estou viva! Ainda...
Quando me alcançaram, vi luz, vi movimento, vi salvação... Não tenho palavras para descrever o que senti, para agradecer a todos aqueles homens e mulheres que me procuraram, que me salvaram...
Enquanto me retiravam, luzes dos holofotes ofuscavam-me os olhos, um movimento de gente e câmaras imortalizavam, nas imagens, o meu "regresso à vida". Estava em choque!

Podia dizer muita coisa nesse momento, poderia agradecer, podia perguntar pela minha família, poder eu podia mas não o fiz...

Quando os olhos do mundo estavam sobre mim, eu agradeci a quem nunca me abandonou nos segundos, minutos, horas, dias desta tragédia...

Eu disse: Merci Jesu!!!!

Nota: Escrevi e encarnei esta mulher nesta história que de verídico só tem a tragédia de um povo e as palavras finais mas que devido ao seu anonimato e ao seu grande testemunho para todos nós, merecia esta evidência... Agora todos podemos dizer: Merci Jesu por te manifestares através desta grande mulher!